Mais folk.
1) The Band - It makes no difference
2) Tom Waits - I hope that I don't fall in love with you
3) Mumford & Sons - The cave
4) Sufjan Stevens - John Wayne Gacy, Jr
Leonardo Ramos.
terça-feira, 15 de fevereiro de 2011
Playlist da semana
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Leonardo Ramos
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terça-feira, 8 de fevereiro de 2011
Playlist da semana
A playlist da semana, que geralmente é publicada na segunda, atrasou um bocadinho. Estava ouvindo muitas coisas novas, indicadas por amigos e pesquisadas por mim, também. Mas o que tem mexido com a minha cabeça nesses últimos tempos é a música folk. Entre canções já tradicionais e descobertas, aí vai mais uma folklist!
1) Joan Baez - Diamonds and rust
2) Judy Collins - Turn, turn, turn
3) The Tallest Man on Earth - The gardener
4) S. Carey - We fell
Leonardo Ramos.
1) Joan Baez - Diamonds and rust
2) Judy Collins - Turn, turn, turn
3) The Tallest Man on Earth - The gardener
4) S. Carey - We fell
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terça-feira, 1 de fevereiro de 2011
Casa
Acordaram com um grito alucinante de dor e desespero rasgando o silêncio da madrugada. Prontamente de pé, pai e mãe correram ao quarto do filho, de onde vinham os barulhos do grito e dos objetos caindo ao chão. O rapaz estava se debatendo, histérico, esfregando as costas no chão, na parede, enfim, onde era possível. Os pais tentaram segurá-lo, mas era impossível. O rapaz parecia ter a força de um touro raivoso.
Desesperados, tentavam se comunicar com o filho, mas ele apenas gritava e gritava, e se debatia. Em pouco tempo a casa estava cheia de gente, que procurava saber o que estava acontecendo. Dez homens, eu disse dez homens foram necessários para segurar o rapaz, enquanto alguém lhe ministrava um entorpecente.
Quando ele desmaiou, então, reergueram a cama e o deitaram ali. O quarto estava praticamente destruído. O menino, já nu, tinha marcas de hematomas e cortes por todo o corpo. Seu rosto estava contorcido de dor. Dédalo não conseguia mais reconhecer o filho, tão machucado e desfigurado estava. Inconsolável, ele e a mulher choravam, enquanto as pessoas que estavam por ali trataram logo de procurar um médico.
O doutor examinou o rapaz. Encontrou em suas costas duas protuberâncias, mais ou menos na linha do ombro, uma de cada lado da espinha dorsal, que julgou serem tumores. Segundo o médico, eram elas que estavam torturando o filho de Dédalo. Recomendou aos pais levarem o rapaz para o hospital, para que ele fosse operado o mais rápido possível.
Uma procissão acompanhou o traslado do menino e, chegando ao hospital, montaram guarda na porta.
Por ser ainda uma hora avançada da madrugada - em torno de 4h -, ele foi levado a um leito, onde ficaria aguardando a preparação da cirurgia. Enquanto isso, era tratado em seus ferimentos. A mãe e o pai atendiam de pé, próximos ao leito, com o olhar confuso e perdido, e com a alma cheia de dor e angústia.
Estando tudo pronto para a intervenção cirúrgica, eis que o menino começa de novo seu balé macabro. Desta vez, deitado de bruços, com as unhas, tentava retirar aqueles dois volumes estranhos das suas costas, rasgando a pele com tal violência que os ossos da coluna estavam ficando expostos. No hospital, porém, uma nova sedação chegou rapidamente, e o rapaz caiu novamente no torpor.
Com a pele rasgada, o médico pôde ver que aquilo que ele julgava serem tumores eram, na verdade, asas.
Trouxeram logo os instrumentos. O médico pediu aos pais que se retirassem.
Não havia outra maneira de retirar aquilo. Eram ossos de uma asa em formação. Já sabendo que a cirurgia seria extremamente dolorosa para o rapaz, e que, num novo acesso de dor lancinante, ele poderia dificultar a intervenção, o médico mandou que lhe atassem mãos e pés e que prendessem seu tronco no leito, e o leito, no chão. Aplicaram nova sedação. O médico sabia não ser suficiente, mas sem ela seria impossível.
Assim que começaram a serrar as asas, como previsto, o rapaz voltou a se debater. No entanto, não era possível mexer demais. Estava bastante preso, os braços e as pernas totalmente esticados. Os gritos ecoavam. O médico, preocupado com o menino, tentou terminar o mais rápido possível. Em menos de meia hora, aquelas duas asas estavam serradas e a pele, suturada.
O menino permaneceu no hospital por cerca de três semanas, recebendo tratamento em seus ferimentos - agora com alguns ossos deslocados, da tentativa de se libertar das amarras durante a cirurgia - e sendo observado. Os pais estavam um pouco mais pacificados após a operação, mas ainda preocupados com o filho. O menino, de dezesseis anos, chorava o tempo inteiro, não da dor das asas ou dos ferimentos. Um choro magoado, de um outro tipo de dor, menos empírica.
Dédalo tentava conversar com ele, contando sobre os novos projetos arquitetônicos que deveria fazer, mas o rapaz, quando não chorava, parecia distante, não dava nenhum tipo de resposta.
De volta a casa, ele ficava recluso ao quarto. Comia pouco. Falava menos. Não queria ver ninguém além dos pais. Aquela intensa melancolia fez com que Dédalo chamasse os amigos do filho, a ver se conseguiam fazer com que ele se animasse um pouco. Eles foram e, diante da incômoda insistência do pai, o menino saiu com eles.
Não tinha a mínima possibilidade de brincar. Então, sentaram-se todos na praça, e perguntaram ao rapaz o que havia acontecido aquela noite. Ele contou o fato de que estavam nascendo asas nele. Foi uma gargalhada geral. Asas? Então ele tinha virado o quê? Uma galinha? Pediram-no que imitasse uma. Alguns se levantaram e começaram a arrastar o pé no chão, como se ciscassem, e abanavam os cotovelos emitindo os cocoricós. Outros se contorciam de rir. Outros ainda o mandavam se esconder do granjeiro. O menino chorava.
Voltou sozinho para casa. Fechou-se no quarto, e só sairia de lá na semana seguinte, quando, outra vez, seu grito horrendo varreria o sono de seus pais.
Outra vez, as asas. Outra vez o entorpecimento e o médico. Este disse não poder fazer a mesma cirurgia de novo. Estava claro que aquele não era um problema comum de saúde. Não fazia sentido serrar as asas toda vez que aparecessem. Sugeriu, por isso, interná-lo num outro tipo de hospital, onde pudesse receber medicamentos para que não sentisse tanta dor. Onde ficasse mais calmo.
Os pais não titubearam. Não conseguiam lidar com a situação. Foram apoiados por todos. Era o melhor mesmo a se fazer. Ele ficaria bem. Levaram-no para ser internado. A fim de evitar novos ferimentos, retiraram tudo o que podiam do quarto. Somente havia uma janela, acima uns quatro metros da cabeça, para evitar fugas. Deixavam-no nu, porque, no desespero, rasgava as roupas. E, após as 20h, ficava amarrado, braços e pernas esticadas, o peito contra a parede alcochoada.
Em quatro meses, a asa estava completamente desenvolvida. Já não sentia mais dor por conta disso. Somente aquela da saudade. Saudade de quê? Talvez não soubesse dizer, talvez nem fosse saudade de algo real ou concreto. Não era de casa, com certeza. Nem dos amigos. A saudade que sentia fazia com que ele quisesse alcançar o céu. Talvez seja essa saudade que impele os pássaros a voar, pensou alto em sua cela.
Um dia, olhando o alto da janela, quando a tarde acabava, viu uma revoada de pássaros passando. Pensou talvez que aquilo fosse liberdade. Num movimento desajeitado de bater de asas, esbarrando em todos os lados, empoleirou-se na janela. O vento acariciou-lhe a nudez. A lua, nascendo junto com a noite, o encantou de tal maneira, que ele se esqueceu de tudo, de toda dor, de todo sofrimento, de toda solidão. Eram só ele, nu, e a noite, nua. Entrando na cela para o acorrentamento noturno, viram-no na janela. Gritaram. De um lado e de outro, as pessoas acorreram. O rapaz saltou e, ainda inexperiente, alçou seu primeiro e último voo.
Buscando sempre o alto, ele viu que, bem de longe, sua pequena cidade parecia um labirinto. Não conseguiu reconhecer sua casa naquele desenho estranho. Parou de olhar para baixo, voltou os olhos para a lua. Ele voava em direção a ela, mas ela jamais se aproximava dele.
Aos poucos, foi sentindo mais frio, mais falta de ar. Estava cansado de voar, a vista começava a escurecer. Mas isso não importava, estava livre. Estava feliz. Estava em casa.
Seu corpo foi achado quatro dias depois, a poucos quilômetros de casa.
Leonardo Ramos.
Desesperados, tentavam se comunicar com o filho, mas ele apenas gritava e gritava, e se debatia. Em pouco tempo a casa estava cheia de gente, que procurava saber o que estava acontecendo. Dez homens, eu disse dez homens foram necessários para segurar o rapaz, enquanto alguém lhe ministrava um entorpecente.
Quando ele desmaiou, então, reergueram a cama e o deitaram ali. O quarto estava praticamente destruído. O menino, já nu, tinha marcas de hematomas e cortes por todo o corpo. Seu rosto estava contorcido de dor. Dédalo não conseguia mais reconhecer o filho, tão machucado e desfigurado estava. Inconsolável, ele e a mulher choravam, enquanto as pessoas que estavam por ali trataram logo de procurar um médico.
O doutor examinou o rapaz. Encontrou em suas costas duas protuberâncias, mais ou menos na linha do ombro, uma de cada lado da espinha dorsal, que julgou serem tumores. Segundo o médico, eram elas que estavam torturando o filho de Dédalo. Recomendou aos pais levarem o rapaz para o hospital, para que ele fosse operado o mais rápido possível.
Uma procissão acompanhou o traslado do menino e, chegando ao hospital, montaram guarda na porta.
Por ser ainda uma hora avançada da madrugada - em torno de 4h -, ele foi levado a um leito, onde ficaria aguardando a preparação da cirurgia. Enquanto isso, era tratado em seus ferimentos. A mãe e o pai atendiam de pé, próximos ao leito, com o olhar confuso e perdido, e com a alma cheia de dor e angústia.
Estando tudo pronto para a intervenção cirúrgica, eis que o menino começa de novo seu balé macabro. Desta vez, deitado de bruços, com as unhas, tentava retirar aqueles dois volumes estranhos das suas costas, rasgando a pele com tal violência que os ossos da coluna estavam ficando expostos. No hospital, porém, uma nova sedação chegou rapidamente, e o rapaz caiu novamente no torpor.
Com a pele rasgada, o médico pôde ver que aquilo que ele julgava serem tumores eram, na verdade, asas.
Trouxeram logo os instrumentos. O médico pediu aos pais que se retirassem.
Não havia outra maneira de retirar aquilo. Eram ossos de uma asa em formação. Já sabendo que a cirurgia seria extremamente dolorosa para o rapaz, e que, num novo acesso de dor lancinante, ele poderia dificultar a intervenção, o médico mandou que lhe atassem mãos e pés e que prendessem seu tronco no leito, e o leito, no chão. Aplicaram nova sedação. O médico sabia não ser suficiente, mas sem ela seria impossível.
Assim que começaram a serrar as asas, como previsto, o rapaz voltou a se debater. No entanto, não era possível mexer demais. Estava bastante preso, os braços e as pernas totalmente esticados. Os gritos ecoavam. O médico, preocupado com o menino, tentou terminar o mais rápido possível. Em menos de meia hora, aquelas duas asas estavam serradas e a pele, suturada.
O menino permaneceu no hospital por cerca de três semanas, recebendo tratamento em seus ferimentos - agora com alguns ossos deslocados, da tentativa de se libertar das amarras durante a cirurgia - e sendo observado. Os pais estavam um pouco mais pacificados após a operação, mas ainda preocupados com o filho. O menino, de dezesseis anos, chorava o tempo inteiro, não da dor das asas ou dos ferimentos. Um choro magoado, de um outro tipo de dor, menos empírica.
Dédalo tentava conversar com ele, contando sobre os novos projetos arquitetônicos que deveria fazer, mas o rapaz, quando não chorava, parecia distante, não dava nenhum tipo de resposta.
De volta a casa, ele ficava recluso ao quarto. Comia pouco. Falava menos. Não queria ver ninguém além dos pais. Aquela intensa melancolia fez com que Dédalo chamasse os amigos do filho, a ver se conseguiam fazer com que ele se animasse um pouco. Eles foram e, diante da incômoda insistência do pai, o menino saiu com eles.
Não tinha a mínima possibilidade de brincar. Então, sentaram-se todos na praça, e perguntaram ao rapaz o que havia acontecido aquela noite. Ele contou o fato de que estavam nascendo asas nele. Foi uma gargalhada geral. Asas? Então ele tinha virado o quê? Uma galinha? Pediram-no que imitasse uma. Alguns se levantaram e começaram a arrastar o pé no chão, como se ciscassem, e abanavam os cotovelos emitindo os cocoricós. Outros se contorciam de rir. Outros ainda o mandavam se esconder do granjeiro. O menino chorava.
Voltou sozinho para casa. Fechou-se no quarto, e só sairia de lá na semana seguinte, quando, outra vez, seu grito horrendo varreria o sono de seus pais.
Outra vez, as asas. Outra vez o entorpecimento e o médico. Este disse não poder fazer a mesma cirurgia de novo. Estava claro que aquele não era um problema comum de saúde. Não fazia sentido serrar as asas toda vez que aparecessem. Sugeriu, por isso, interná-lo num outro tipo de hospital, onde pudesse receber medicamentos para que não sentisse tanta dor. Onde ficasse mais calmo.
Os pais não titubearam. Não conseguiam lidar com a situação. Foram apoiados por todos. Era o melhor mesmo a se fazer. Ele ficaria bem. Levaram-no para ser internado. A fim de evitar novos ferimentos, retiraram tudo o que podiam do quarto. Somente havia uma janela, acima uns quatro metros da cabeça, para evitar fugas. Deixavam-no nu, porque, no desespero, rasgava as roupas. E, após as 20h, ficava amarrado, braços e pernas esticadas, o peito contra a parede alcochoada.
Em quatro meses, a asa estava completamente desenvolvida. Já não sentia mais dor por conta disso. Somente aquela da saudade. Saudade de quê? Talvez não soubesse dizer, talvez nem fosse saudade de algo real ou concreto. Não era de casa, com certeza. Nem dos amigos. A saudade que sentia fazia com que ele quisesse alcançar o céu. Talvez seja essa saudade que impele os pássaros a voar, pensou alto em sua cela.
Um dia, olhando o alto da janela, quando a tarde acabava, viu uma revoada de pássaros passando. Pensou talvez que aquilo fosse liberdade. Num movimento desajeitado de bater de asas, esbarrando em todos os lados, empoleirou-se na janela. O vento acariciou-lhe a nudez. A lua, nascendo junto com a noite, o encantou de tal maneira, que ele se esqueceu de tudo, de toda dor, de todo sofrimento, de toda solidão. Eram só ele, nu, e a noite, nua. Entrando na cela para o acorrentamento noturno, viram-no na janela. Gritaram. De um lado e de outro, as pessoas acorreram. O rapaz saltou e, ainda inexperiente, alçou seu primeiro e último voo.
Buscando sempre o alto, ele viu que, bem de longe, sua pequena cidade parecia um labirinto. Não conseguiu reconhecer sua casa naquele desenho estranho. Parou de olhar para baixo, voltou os olhos para a lua. Ele voava em direção a ela, mas ela jamais se aproximava dele.
Aos poucos, foi sentindo mais frio, mais falta de ar. Estava cansado de voar, a vista começava a escurecer. Mas isso não importava, estava livre. Estava feliz. Estava em casa.
Seu corpo foi achado quatro dias depois, a poucos quilômetros de casa.
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segunda-feira, 31 de janeiro de 2011
Playlist da semana
Músicas com piano esta semana. O mais belo dos instrumentos...
1) Tom Waits - Waltzing Matilda
2) Nick Cave - Into my arms
3) Beirut - Un dernier verre (pour la route)
4) Thom Yorke - Analyse
Sem mais.
Hermes.
1) Tom Waits - Waltzing Matilda
2) Nick Cave - Into my arms
3) Beirut - Un dernier verre (pour la route)
4) Thom Yorke - Analyse
Sem mais.
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terça-feira, 25 de janeiro de 2011
Despedida órfica
Não voltarás.
Durante a fuga, eu, sofrendo saudade,
voltei meus olhos para trás.
Tu, enfeitiçada pelo deus dos mortos,
não suportaste meu olhar,
embora eu só quisesse o teu.
Adeus, metade amada de minh’alma.
Adeus.
Adeus ontem.
Adeus hoje.
Adeus amanhã,
que a falta
é uma maldição divina
que faz da despedida
uma
morte
sempre contínua.
Leonardo Ramos.
Durante a fuga, eu, sofrendo saudade,
voltei meus olhos para trás.
Tu, enfeitiçada pelo deus dos mortos,
não suportaste meu olhar,
embora eu só quisesse o teu.
Adeus, metade amada de minh’alma.
Adeus.
Adeus ontem.
Adeus hoje.
Adeus amanhã,
que a falta
é uma maldição divina
que faz da despedida
uma
morte
sempre contínua.
Leonardo Ramos.
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segunda-feira, 10 de janeiro de 2011
Playlist da semana
Para esta semana, voltando de um sítio, pensei em boas e belas folksongs, só voz e violão - ou, no caso do Eddie Vedder, voz e bandolim. Neil Young tem privilégios neste estabelecimento, e pode cantar duas músicas.
1) Neil Young - On the way home/ Tell me why
2) Elliott Smith - Angeles
3) Iron & Wine - Resurrection Fern
4) Eddie Vedder - Rise
Hermes.
1) Neil Young - On the way home/ Tell me why
2) Elliott Smith - Angeles
3) Iron & Wine - Resurrection Fern
4) Eddie Vedder - Rise
Hermes.
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domingo, 9 de janeiro de 2011
Elegia
(Trilha sonora sugerida por Henrique de Souza: Elegia, by New Order)
Sol e estrelas cairão
Ao ver você partir.
Mas não será o fim.
O fim nunca virá...
O inverno vai voltar
Pra nunca terminar.
A espera não tem fim!
O inverso está em mim...
O inverso desse sol,
O inverso desse fim.
A escuridão de mim...
A escuridão em mim
Jamais terá um fim.
Jamais terá...
Leonardo Ramos.
Sol e estrelas cairão
Ao ver você partir.
Mas não será o fim.
O fim nunca virá...
O inverno vai voltar
Pra nunca terminar.
A espera não tem fim!
O inverso está em mim...
O inverso desse sol,
O inverso desse fim.
A escuridão de mim...
A escuridão em mim
Jamais terá um fim.
Jamais terá...
Leonardo Ramos.
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segunda-feira, 3 de janeiro de 2011
Playlist da semana
Neste início de ano, pensei num playlist engajado. Porque, se todos nós erguemos taças desejando uns para os outros um feliz 2011, o novo ano tem de ser feliz para todos, não só para aqueles que se consideram "cidadãos de bem". E, para isso acontecer, é necessário inclusão, queda dos preconceitos, melhor distribuição de renda, reforma agrária, não-intervenção dos países ricos sobre os pobres, fim dos fanatismos etc. Eu, sinceramente, não tenho mais esperanças de que essas coisas aconteçam um dia, mas não deixo de lutar por isso.
1) Pearl Jam - Do the evolution
Música com letra sensacional e um clipe forte, para mostrar os perigos da tal "meritocracia" que o capitalismo diz proporcionar. O melhor trecho, na minha opinião, é o seguinte: "Admire me, admire my home,/ admire my son, he's my clone./ This land is mine, this land is free;/ I'll do what I want, yet irresponsably." ("Admire-me, admire minha casa, admire meu filho, ele é meu clone. Esta terra é minha, esta terra é livre; eu faço o que eu quero, ainda que irresponsavelmente.")
2) Rage Against the Machine - Testify
O Rage Against the Machine é das bandas mais engajadas. Eles se opuseram diretamente ao governo Bush e sua política intervencionistas nos países mais pobres. Esta música, "Testify", fala diretamente contra a ingerência americana no Iraque, sempre em busca de petróleo. Este trecho da letra reproduz a sede de sangue dos setores mais conservadores do governo e da população americana: "The movie ran through me,/ the glamour subdued me, the tabloid untied me./ I'm empty please fill me!/Mr. anchor, assure me/ that Baghdad is burning./ Your voice, it is so soothing..." ("O filme me atropelou, o glamour me dominou, o tabloide me libertou. Eu estou vazio, por favor, me preencha! Sr. âncora, dê-me a certeza de que Bagdá está ardendo. Sua voz é tão acalmante..."), o que parece ser também uma profecia da guerra que iria estourar três anos depois: a Guerra do Iraque, que se ameaçou com a desculpa de que Saddam Hussein teria armas químicas, e, depois, tendo-se verificado que não havia nada disso, começou e prosseguiu sem motivo nenhum, matando boa parte dos cidadãos inocentes, tratados como idiotas, como se precisassem dos guardiões da "liberdade" para ensiná-los o que é "democracia".
3) Chico Buarque - Cálice
Música que reflete bem a angústia de quem viveu a Ditadura Militar - que hoje em dia andam chamando de "ditabranda" - e não podia falar muito, sob o risco de ser torturado e morto. Ser obrigado a ficar calado, assistindo "da arquibancada, pra a qualquer momento, ver emergir o monstro da lagoa" e engolir toda a violência e abuso desse Leviatã brasileiro talvez ainda fosse pior do que a morte. Essa música precisa ser relembrada sempre mais, para evitar o que tentam fazer hoje em dia: revisionismos sobre as "benesses" do governo ditatorial e a criminalização dos que lutaram contra o autoritarismo e a censura.
4) O Rappa - A minha alma (a paz que eu não quero)
Esta música foi terrivelmente comercializada, a ponto de tocar em qualquer boate de pitboys que defendem a violência da polícia contra os moradores de favelas. A letra, no entanto, fala da paz hipócrita, aquela que fecha os olhos para o sofrimento "dos outros", conquanto a violência não chegue à minha casa "num dia de domingo". O clipe mostra muito bem como um inocente pode ser assassinado por policiais sem que nada de mais aconteça - afinal, "cidadãos de bem" não habitam favelas. Esse abuso de poder é algo com que muita gente já se acostumou a ver na TV, e com que alguns até vibram, ignorando que a violência policial também pode bater à porta dos "bem-nascidos" - como aconteceu com a advogada Alessandra Soares, que teve seu carro alvejado por policias que o confundiram com carro de bandidos, e teve seu filho de três anos, João Roberto, assassinado.
http://oglobo.globo.com/rio/mat/2009/01/12/memoria-relembre-morte-do-menino-joao-roberto-baleado-numa-acao-policial-na-tijuca-657119897.asp
A Warner, gravadora da banda, não permite a incorporação do vídeo aqui no blog - e eu não consigo entender por que motivo - mas é possível vê-lo no Youtube. E vale a pena rever, apesar de muito triste.
http://www.youtube.com/watch?v=vF1Ad3hrdzY
Feliz 2011 - para todos.
Leonardo Ramos.
1) Pearl Jam - Do the evolution
Música com letra sensacional e um clipe forte, para mostrar os perigos da tal "meritocracia" que o capitalismo diz proporcionar. O melhor trecho, na minha opinião, é o seguinte: "Admire me, admire my home,/ admire my son, he's my clone./ This land is mine, this land is free;/ I'll do what I want, yet irresponsably." ("Admire-me, admire minha casa, admire meu filho, ele é meu clone. Esta terra é minha, esta terra é livre; eu faço o que eu quero, ainda que irresponsavelmente.")
2) Rage Against the Machine - Testify
O Rage Against the Machine é das bandas mais engajadas. Eles se opuseram diretamente ao governo Bush e sua política intervencionistas nos países mais pobres. Esta música, "Testify", fala diretamente contra a ingerência americana no Iraque, sempre em busca de petróleo. Este trecho da letra reproduz a sede de sangue dos setores mais conservadores do governo e da população americana: "The movie ran through me,/ the glamour subdued me, the tabloid untied me./ I'm empty please fill me!/Mr. anchor, assure me/ that Baghdad is burning./ Your voice, it is so soothing..." ("O filme me atropelou, o glamour me dominou, o tabloide me libertou. Eu estou vazio, por favor, me preencha! Sr. âncora, dê-me a certeza de que Bagdá está ardendo. Sua voz é tão acalmante..."), o que parece ser também uma profecia da guerra que iria estourar três anos depois: a Guerra do Iraque, que se ameaçou com a desculpa de que Saddam Hussein teria armas químicas, e, depois, tendo-se verificado que não havia nada disso, começou e prosseguiu sem motivo nenhum, matando boa parte dos cidadãos inocentes, tratados como idiotas, como se precisassem dos guardiões da "liberdade" para ensiná-los o que é "democracia".
3) Chico Buarque - Cálice
Música que reflete bem a angústia de quem viveu a Ditadura Militar - que hoje em dia andam chamando de "ditabranda" - e não podia falar muito, sob o risco de ser torturado e morto. Ser obrigado a ficar calado, assistindo "da arquibancada, pra a qualquer momento, ver emergir o monstro da lagoa" e engolir toda a violência e abuso desse Leviatã brasileiro talvez ainda fosse pior do que a morte. Essa música precisa ser relembrada sempre mais, para evitar o que tentam fazer hoje em dia: revisionismos sobre as "benesses" do governo ditatorial e a criminalização dos que lutaram contra o autoritarismo e a censura.
4) O Rappa - A minha alma (a paz que eu não quero)
Esta música foi terrivelmente comercializada, a ponto de tocar em qualquer boate de pitboys que defendem a violência da polícia contra os moradores de favelas. A letra, no entanto, fala da paz hipócrita, aquela que fecha os olhos para o sofrimento "dos outros", conquanto a violência não chegue à minha casa "num dia de domingo". O clipe mostra muito bem como um inocente pode ser assassinado por policiais sem que nada de mais aconteça - afinal, "cidadãos de bem" não habitam favelas. Esse abuso de poder é algo com que muita gente já se acostumou a ver na TV, e com que alguns até vibram, ignorando que a violência policial também pode bater à porta dos "bem-nascidos" - como aconteceu com a advogada Alessandra Soares, que teve seu carro alvejado por policias que o confundiram com carro de bandidos, e teve seu filho de três anos, João Roberto, assassinado.
http://oglobo.globo.com/rio/mat/2009/01/12/memoria-relembre-morte-do-menino-joao-roberto-baleado-numa-acao-policial-na-tijuca-657119897.asp
A Warner, gravadora da banda, não permite a incorporação do vídeo aqui no blog - e eu não consigo entender por que motivo - mas é possível vê-lo no Youtube. E vale a pena rever, apesar de muito triste.
http://www.youtube.com/watch?v=vF1Ad3hrdzY
Feliz 2011 - para todos.
Leonardo Ramos.
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quarta-feira, 29 de dezembro de 2010
Sobre a fórmula de ganhar dinheiro com livros
Minhas visitas à Livraria Leitura cumprem sempre um itinerário fixo: passo rapidamente pela entrada, onde jazem serelepes e coloridos os livros que eu chamaria de fast-read - leituras rápidas, divertidas (não para mim, devo confessar) mas que estragam a saúde mental se usados imoderadamente; sigo, então, para a prateleira da Teoria da Literatura, lugar em que eu posso tratar a literatura com a dignidade e respeito que ela merece; logo depois, a visita à Filosofia é obrigatória, já que sem a epistemologia não haveria Teoria da Literatura.
Pois bem, ontem, indo a essa livraria e cumprindo o itinerário de sempre, eu deparei com um livro coloridinho demais para a área da Teoria da Literatura. Julguei-o, claro, estrangeiro, e tive, tenho de admitir, impulsos xenofóbicos. Logo fui a ele, pensando em intimidá-lo para que me dissesse qual era seu interesse por ali, se estava com os documentos em dia, porque estava com aquela capa chamativa etc. Tomando-o pela gola da camisa e o levantando ante meus olhos, vi que se tratava de um livro sobre Shakespeare - o Zeus do meu Olimpo Literário - e, receoso de que ele me dissesse: "Você não sabe com quem está mexendo, rapaz! Vou reportar essa atitude deplorável aos seus superiores universitários...", eu fiz o movimento de deixá-lo de volta à prateleira, pedindo desculpas pela minha grosseria e justificando que eu o tomei por outra pessoa.
Mas, enquanto eu o repunha na estante, li no título a palavra código. Não, eu não estava errado! Um livro chamado O Código Shakespeare jamais - eu disse JAMAIS! - estaria na Teoria da Literatura. Voltei a erguê-lo pelo colarinho e o revistei à procura de seus documentos: realmente era um estrangeiro. Aquele era um livro filho dos fast-read, escritos para entreter os incautos leitores de fins de semana ociosos. A contra-capa o denunciara: "Um livro recheado de mistério, intrigas..." e outras coisas que não ouso mencionar; o nome da editora, "Best Seller", dispersou qualquer dúvida de que aquele livro estava no lugar errado.
O tal livro segue a fórmula de sucesso já utilizada por Dan Brown e outros: uma história controversa com uma reviravolta em cada capítulo - quando Aristóteles, em sua Poética, dizia (e eu concordo) ser necessária apenas uma - frases de efeito, trechos engraçadinhos, vez ou outra um momento picante, e, no final, uma revelação bombástica retirada do bolso do autor - para não dizer doutro lugar, o que escandalizaria meus hóspedes. Então, o editor faz uma capinha coloridinha, com o nome do autor bem grande, no alto, e o nome do livro no meio com uma fonte bizarra - tudo para chamar a atenção do cliente. Não é à toa que esses livros ficam logo à porta, perto dos caixas: é para facilitar a vida do comprador, que não precisaria se aprofundar demais na livraria nem se demorar na procura. Afinal, a vida anda muito corrida, e não temos tempo a perder no conhecimento de outros tipos de livros. Então, que se deixe logo à mostra o que mais interessa.
Vários motivos me levam ao meu ódio xenofóbico contra esse tipo de livro: em primeiro lugar, a constatação triste e consternante de que pessoas que jamais leram Shakespeare lerão esse livro; em segundo, a certeza de que essas mesmas pessoas, após lerem a merda do tal código, jamais lerão o Bardo; e, por último, o fato de eu ter de ouvir tais pessoas discutir comigo como se o que foi escrito ali é uma verdade dogmática, mas inabalável que o firmamento, mais resistente que o diamante, mais certo que o nascer do sol.
Antes desse livro, um outro, A Conspiração Franciscana, já me tinha feito perder a paciência. Li as primeiras cem páginas dele, por indicação de um grande amigo, que queria debater o livro comigo. Foi uma das piores leituras da minha vida! Nunca vou esquecer os momentos de terror sofridos... Esse meu amigo, no entanto, soube separar o que é ficção - quase tudo que está além dos nomes dos personagens - do que é real. Outros, porém, levaram o livro tão a sério que não era possível dizer coisa diversa do que foi escrito. Era como se eu estivesse "defendendo" os franciscanos por ter sido um, um dia...
É claro que ninguém tem de gostar de literatura como eu gosto. Nunca desejaria isso! Mas é necessário ler livros de ficção como livros de ficção, e livros de fast-read como livros a serem usados com moderação e crítica. Mas que eu saí da livraria pensando num atentado terrorista que eliminasse todos aqueles livros, ah!, eu pensei...
Leonardo Ramos.
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Leonardo Ramos
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terça-feira, 28 de dezembro de 2010
Espelho
O fantasma de seu pai apareceu. Não fazia ainda três horas que o havia enterrado. Passara todo o velório pensando que, não fosse o ataque cardíaco fulminante, ele o teria matado com as próprias mãos. Mal conseguia conter-se na vontade quase incontrolável de atirar o caixão ao chão com toda a força de seu ódio e, tomando o cadáver pela cabeça, batê-la repetidamente no chão, até que conseguisse cavar ali mesmo o buraco onde jogaria o corpo de seu pai.
O fantasma de seu pai apareceu, e antes que ele pudesse gritar “covarde!”, as mãos fantasmagóricas, com uma força não-natural, agarraram-se a seu pescoço, impedindo completamente sua respiração. Mas nem isso ele conseguia perceber, tão grande era o ódio e a vontade de matar o fantasma de seu pai. Erguendo-se da cama onde estava deitado num movimento frenético e violento, tentou alcançar o rosto do fantasma de seu pai, em vão. Os golpes zuniam pelo ar, e numa dança macabra, ele se debatia incontrolavelmente, nem tanto pelo sufocamento, mas pela vontade incontrolável de matar o fantasma de seu pai.
O fantasma de seu pai mantinha as mãos firmes em seu pescoço e o olhar impassível, como sempre tivera. Na verdade, seu pai era um homem resolvido. Sofrera bastante com a morte da mulher, que se suicidara na noite de seu aniversário de trinta e três anos, com veneno que ela mesmo preparou para si, numa taça de vinho tinto caríssimo, logo após ter brindado à saúde de seu marido aniversariante. No entanto, ele prosseguiu a vida, criando seu filho único com carinho e devoção. Quase nada fazia seu pai perder a calma. Era irônico como o filho, sim, era irascível e violento como uma besta, como um urso de três metros de altura provocado por horas a fio. Uma besta que, inutilmente, tentava matar o fantasma de seu pai.
O fantasma mantinha o olhar impassível e as mãos firmes sobre o pescoço dele, e sua serenidade contrastava com o ódio do filho. Estranhamente, ele sentia esse ódio por seu pai desde os dez anos, desde que sua mãe havia morrido. Quando chegara o dia de seu próprio aniversário de quarenta anos, com vontade resoluta, invadira o quarto de seu pai, logo ao amanhecer, com a intenção de o matar sufocado. Não pôde conter sua ira ao ver que seu pai havia morrido em algum momento durante a noite. O criado impediu que ele agredisse o cadáver de seu pai.
Contudo, o fantasma de seu pai estava a pouco de o estrangular. E não havia ainda três horas que o enterrara, tentando controlar seu ódio por vê-lo morto antes que ele mesmo o matasse. A briga seguia. Os golpes cantavam quando varavam o ar ou quando acertavam a mobília. Suas mãos estavam sangrando. Já estava a poucos instantes de morrer sufocado. No entanto, os movimentos violentos que fazia seriam capazes de deslocar os braços do fantasma de seu pai, se isso fosse possível. Mas, então, ninguém ainda ouvira falar que um filho tivesse conseguido deslocar os ossos dos braços do fantasma de um pai.
E o fantasma de seu pai o jogou contra a parede com tal força que o barulho foi ouvido pelo criado, que ficou de ouvidos alertas a fim de ouvir se o barulho se repetiria ou se fora sua imaginação. E lá estava o homem, oprimido contra a parede pelo fantasma do próprio pai, enquanto tentava gritar “covarde!” e o matar. Interessante, desde os dez anos tinha vontade de matar seu pai. Mas nunca tivera essa coragem, até o dia de seu aniversário de quarenta anos, quando, com vontade resoluta, invadira o quarto de seu pai, encontrando-o, todavia, já morto. Quanta frustração encontrara naquele quarto mórbido! Isso o podia ver nos seus olhos já vermelhos e saltando das órbitas o fantasma de seu pai, que mantinha o olhar impassível e as mãos firmes sobre o pescoço dele.
No seu último desesperado movimento na tentativa de matar o fantasma de seu pai, o homem correu, de uma parede a outra do enorme quarto, como se quisesse jogar o fantasma de seu pai contra a parede. Engraçado, nesse momento ele se lembrou de um passeio, poucos meses após a morte de sua mãe, que se suicidara na noite do aniversário de seu pai, logo após fazer um brinde à saúde dele, com uma taça de vinho tinto envenenado que ela mesma havia preparado. No passeio, num pequeno momento de descuido, ele se perdera de seu pai. Pouco mais de três minutos se passaram, mas para ele foram quase trinta anos. Quando ele reencontrou seu pai, correu e pendurou-se ao seu pescoço, chorando, beijando-o e pedindo que não o deixasse sozinho nunca mais. Seu pai mantivera o rosto impassível e, num abraço terno, prometera que isso jamais aconteceria outra vez. Era o mesmo rosto impassível do fantasma de seu pai que ele encarava agora, segundos antes de se chocar com violência incrível contra o espelho que ficava na outra parede do enorme quarto, na tentativa de jogar contra a parede o fantasma de seu pai.
Desta vez, o criado, que estava atento a ouvir outro barulho que pudesse se repetir, se não fosse coisa de sua imaginação, ouviu claramente o estrondo amedrontador do choque do homem contra o espelho, ouviu o barulho do vidro se estilhaçando, ouviu também um estrondo, como o estrondo de um urso de três metros de altura batendo contra o armário e, por último, ouviu o barulho surdo do armário caindo sobre alguma coisa como um corpo.
Ao chegar ao enorme quarto, o criado desejou jamais ter trabalhado naquela casa, apesar de seu patrão ser um homem cortês, amável e pacífico. O filho de seu patrão estava esmagado sob o pesado armário de mogno que sua mãe ganhara para o enxoval de seu bebê. Com muito esforço, conseguiu remover o armário de cima do homem. A cena era horrível. Seu crânio estava esmagado, e a massa cerebral, entre vermelha e cinzenta, dava a impressão de uma barata pisada. Os cacos do espelho lhe desfiguraram a face, fazendo um corte desde o topo direito da testa, passando pelo olho direito, quase completamente fora da órbita e fendido, jorrando sangue e líquido intraocular, passando pelo nariz, já cianótico e quebrado, e pelos lábios, contraídos horrivelmente, como se quisessem gritar “covarde!” e não pudessem, até sua garganta, que jorrava sangue copiosamente.
Ele foi enterrado no mesmo dia de seu pai, no fim da tarde, sob comentários do criado de ter sido vítima de sua epilepsia, que, tomando-lhe o ar, o fez girar freneticamente pelo enorme quarto, esbarrar nos móveis, quebrar o espelho e, por último, desmaiar sobre o armário. Este, apesar de ser enorme e de mogno, após o choque do corpo do homem, que também era enorme e forte como um urso de três metros de altura, caiu sobre ele, esmagando seu crânio de forma grotesca. Mas, na verdade, isso era mentira. Ele havia sido assassinado pelo fantasma de seu pai, que ele havia enterrado não fazia três horas, chorando copiosamente de ódio por não ter podido matá-lo ele mesmo.
Leonardo Ramos.
O fantasma de seu pai apareceu, e antes que ele pudesse gritar “covarde!”, as mãos fantasmagóricas, com uma força não-natural, agarraram-se a seu pescoço, impedindo completamente sua respiração. Mas nem isso ele conseguia perceber, tão grande era o ódio e a vontade de matar o fantasma de seu pai. Erguendo-se da cama onde estava deitado num movimento frenético e violento, tentou alcançar o rosto do fantasma de seu pai, em vão. Os golpes zuniam pelo ar, e numa dança macabra, ele se debatia incontrolavelmente, nem tanto pelo sufocamento, mas pela vontade incontrolável de matar o fantasma de seu pai.
O fantasma de seu pai mantinha as mãos firmes em seu pescoço e o olhar impassível, como sempre tivera. Na verdade, seu pai era um homem resolvido. Sofrera bastante com a morte da mulher, que se suicidara na noite de seu aniversário de trinta e três anos, com veneno que ela mesmo preparou para si, numa taça de vinho tinto caríssimo, logo após ter brindado à saúde de seu marido aniversariante. No entanto, ele prosseguiu a vida, criando seu filho único com carinho e devoção. Quase nada fazia seu pai perder a calma. Era irônico como o filho, sim, era irascível e violento como uma besta, como um urso de três metros de altura provocado por horas a fio. Uma besta que, inutilmente, tentava matar o fantasma de seu pai.
O fantasma mantinha o olhar impassível e as mãos firmes sobre o pescoço dele, e sua serenidade contrastava com o ódio do filho. Estranhamente, ele sentia esse ódio por seu pai desde os dez anos, desde que sua mãe havia morrido. Quando chegara o dia de seu próprio aniversário de quarenta anos, com vontade resoluta, invadira o quarto de seu pai, logo ao amanhecer, com a intenção de o matar sufocado. Não pôde conter sua ira ao ver que seu pai havia morrido em algum momento durante a noite. O criado impediu que ele agredisse o cadáver de seu pai.
Contudo, o fantasma de seu pai estava a pouco de o estrangular. E não havia ainda três horas que o enterrara, tentando controlar seu ódio por vê-lo morto antes que ele mesmo o matasse. A briga seguia. Os golpes cantavam quando varavam o ar ou quando acertavam a mobília. Suas mãos estavam sangrando. Já estava a poucos instantes de morrer sufocado. No entanto, os movimentos violentos que fazia seriam capazes de deslocar os braços do fantasma de seu pai, se isso fosse possível. Mas, então, ninguém ainda ouvira falar que um filho tivesse conseguido deslocar os ossos dos braços do fantasma de um pai.
E o fantasma de seu pai o jogou contra a parede com tal força que o barulho foi ouvido pelo criado, que ficou de ouvidos alertas a fim de ouvir se o barulho se repetiria ou se fora sua imaginação. E lá estava o homem, oprimido contra a parede pelo fantasma do próprio pai, enquanto tentava gritar “covarde!” e o matar. Interessante, desde os dez anos tinha vontade de matar seu pai. Mas nunca tivera essa coragem, até o dia de seu aniversário de quarenta anos, quando, com vontade resoluta, invadira o quarto de seu pai, encontrando-o, todavia, já morto. Quanta frustração encontrara naquele quarto mórbido! Isso o podia ver nos seus olhos já vermelhos e saltando das órbitas o fantasma de seu pai, que mantinha o olhar impassível e as mãos firmes sobre o pescoço dele.
No seu último desesperado movimento na tentativa de matar o fantasma de seu pai, o homem correu, de uma parede a outra do enorme quarto, como se quisesse jogar o fantasma de seu pai contra a parede. Engraçado, nesse momento ele se lembrou de um passeio, poucos meses após a morte de sua mãe, que se suicidara na noite do aniversário de seu pai, logo após fazer um brinde à saúde dele, com uma taça de vinho tinto envenenado que ela mesma havia preparado. No passeio, num pequeno momento de descuido, ele se perdera de seu pai. Pouco mais de três minutos se passaram, mas para ele foram quase trinta anos. Quando ele reencontrou seu pai, correu e pendurou-se ao seu pescoço, chorando, beijando-o e pedindo que não o deixasse sozinho nunca mais. Seu pai mantivera o rosto impassível e, num abraço terno, prometera que isso jamais aconteceria outra vez. Era o mesmo rosto impassível do fantasma de seu pai que ele encarava agora, segundos antes de se chocar com violência incrível contra o espelho que ficava na outra parede do enorme quarto, na tentativa de jogar contra a parede o fantasma de seu pai.
Desta vez, o criado, que estava atento a ouvir outro barulho que pudesse se repetir, se não fosse coisa de sua imaginação, ouviu claramente o estrondo amedrontador do choque do homem contra o espelho, ouviu o barulho do vidro se estilhaçando, ouviu também um estrondo, como o estrondo de um urso de três metros de altura batendo contra o armário e, por último, ouviu o barulho surdo do armário caindo sobre alguma coisa como um corpo.
Ao chegar ao enorme quarto, o criado desejou jamais ter trabalhado naquela casa, apesar de seu patrão ser um homem cortês, amável e pacífico. O filho de seu patrão estava esmagado sob o pesado armário de mogno que sua mãe ganhara para o enxoval de seu bebê. Com muito esforço, conseguiu remover o armário de cima do homem. A cena era horrível. Seu crânio estava esmagado, e a massa cerebral, entre vermelha e cinzenta, dava a impressão de uma barata pisada. Os cacos do espelho lhe desfiguraram a face, fazendo um corte desde o topo direito da testa, passando pelo olho direito, quase completamente fora da órbita e fendido, jorrando sangue e líquido intraocular, passando pelo nariz, já cianótico e quebrado, e pelos lábios, contraídos horrivelmente, como se quisessem gritar “covarde!” e não pudessem, até sua garganta, que jorrava sangue copiosamente.
Ele foi enterrado no mesmo dia de seu pai, no fim da tarde, sob comentários do criado de ter sido vítima de sua epilepsia, que, tomando-lhe o ar, o fez girar freneticamente pelo enorme quarto, esbarrar nos móveis, quebrar o espelho e, por último, desmaiar sobre o armário. Este, apesar de ser enorme e de mogno, após o choque do corpo do homem, que também era enorme e forte como um urso de três metros de altura, caiu sobre ele, esmagando seu crânio de forma grotesca. Mas, na verdade, isso era mentira. Ele havia sido assassinado pelo fantasma de seu pai, que ele havia enterrado não fazia três horas, chorando copiosamente de ódio por não ter podido matá-lo ele mesmo.
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