(Trilha sonora obrigatória: My Foolish Heart, by Bill Evans)
Saudade é como a areia da ampulheta:
No mesmo instante em que preenche um vazio
Cria outro.
É como o assobio do vento
Num fim de tarde frio,
Quando cada barulho parece um murmúrio.
É como a sentinela sobre a torre:
Atende a cada ruído
Na esperança de que seja alguém.
É como o eco de um caudaloso rio
Correndo nas entranhas de um labirinto
Sem dele jamais sair.
É como ser devorado pelo deus
E continuar vivo
Para voltar a ser devorado.
É como no mito de Orfeu:
Eurídice está ali,
Mas pode desvanecer num olhar.
É uma ausência presente,
Uma solidão acompanhada,
É como ver quem não se pode ver.
Leonardo Ramos.
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terça-feira, 7 de dezembro de 2010
Saudade
Postado por
Leonardo Ramos
às
23:34
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segunda-feira, 6 de dezembro de 2010
Playlist da semana
Segunda-feira + chuva x enxaqueca = melancolia.
1) A lua não está aí para nos dar seu clarão, mas aí está Beethoven para ecoar nossa tristeza. Esse primeiro movimento da Sonata Claire de Lune tem pouquíssima dinâmica. Ela é executada quase toda pianissimo e jamais chega ao fortissimo. O tom é menor e a harmonia é um tanto dissonante. Graves e agudos sempre contrastando. Metáfora da vida.
2) A cabeça baixa, os olhos fechados e as costas curvas só demonstram que Bill Evans estava mais interessado em si mesmo que nos ouvintes quando executava seu cool jazz. E é por não se preocupar com a plateia que a sua interpretação tem tanto impacto. Em I loves [sic] you, Porgy, ele faz o piano chorar e reclamar, tentando transferir para o instrumento o sentimento que ele talvez não quisesse assumir como dele. Privilégio dos bons músicos!
3) Day is done é a música em que o Nick Drake conseguiu colocar toda a angústia da(s) falta(s). A falta começa a aparecer nos fins de tarde e se instala de vez durante a noite. Talvez ela se manifeste com mais força logo após um momento de intensa alegria. Acho que é a isso que ele se refere na seguinte estrofe: "When the party's through/ seems so sad for you:/ didn't do the things you meant to do,/ now there's no time to start anew,/ now the party's through." As repetições não são acaso, Nick Drake era um poeta. Elas acentuam o efeito angustiante da rotina. É a certeza de que você passará por tudo isso de novo amanhã... Escolhi a versão demo porque é apenas o Drake e seu violão e porque, esteticamente, acho que ela está mais de acordo com o clima da letra.
4) Um clássico do rock, Comfortably Numb é a música que se utiliza da metáfora da doença para falar de solidão. O trecho do filme "The Wall" que foi agraciado com essa trilha sonora mostra um menino, um rato, e o próprio menino já crescido. Os três estão em momentos de fraqueza física. O menino é tratado com desleixo pela mãe quando está mal; esse mesmo menino trata com carinho um rato que ele encontra doente e que, no entanto, morre; depois, já adulto e junkie, o menino recebe cuidados, mas por simples interesse pragmático, afinal, "the show must go on". O remédio para esse garoto, então, é se isolar, não se permitir sentir mais nenhum tipo de "fraqueza", ficar dormente, insensível.
C'est l'Ennui ! - l'oeil chargé d'un pleur involontaire...
Charles Baudelaire
Leonardo Ramos.
1) A lua não está aí para nos dar seu clarão, mas aí está Beethoven para ecoar nossa tristeza. Esse primeiro movimento da Sonata Claire de Lune tem pouquíssima dinâmica. Ela é executada quase toda pianissimo e jamais chega ao fortissimo. O tom é menor e a harmonia é um tanto dissonante. Graves e agudos sempre contrastando. Metáfora da vida.
2) A cabeça baixa, os olhos fechados e as costas curvas só demonstram que Bill Evans estava mais interessado em si mesmo que nos ouvintes quando executava seu cool jazz. E é por não se preocupar com a plateia que a sua interpretação tem tanto impacto. Em I loves [sic] you, Porgy, ele faz o piano chorar e reclamar, tentando transferir para o instrumento o sentimento que ele talvez não quisesse assumir como dele. Privilégio dos bons músicos!
3) Day is done é a música em que o Nick Drake conseguiu colocar toda a angústia da(s) falta(s). A falta começa a aparecer nos fins de tarde e se instala de vez durante a noite. Talvez ela se manifeste com mais força logo após um momento de intensa alegria. Acho que é a isso que ele se refere na seguinte estrofe: "When the party's through/ seems so sad for you:/ didn't do the things you meant to do,/ now there's no time to start anew,/ now the party's through." As repetições não são acaso, Nick Drake era um poeta. Elas acentuam o efeito angustiante da rotina. É a certeza de que você passará por tudo isso de novo amanhã... Escolhi a versão demo porque é apenas o Drake e seu violão e porque, esteticamente, acho que ela está mais de acordo com o clima da letra.
4) Um clássico do rock, Comfortably Numb é a música que se utiliza da metáfora da doença para falar de solidão. O trecho do filme "The Wall" que foi agraciado com essa trilha sonora mostra um menino, um rato, e o próprio menino já crescido. Os três estão em momentos de fraqueza física. O menino é tratado com desleixo pela mãe quando está mal; esse mesmo menino trata com carinho um rato que ele encontra doente e que, no entanto, morre; depois, já adulto e junkie, o menino recebe cuidados, mas por simples interesse pragmático, afinal, "the show must go on". O remédio para esse garoto, então, é se isolar, não se permitir sentir mais nenhum tipo de "fraqueza", ficar dormente, insensível.
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Charles Baudelaire
Leonardo Ramos.
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Leonardo Ramos
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