II
O adulto olhou a criança,
Sorriu, e lhe perguntou:
“Aonde vais, garotinho?
Que coisa te acelerou
Para correres assim
No centro desta cidade?
Que compromisso importante
Será que tens nessa idade?”
“Primeiro eu peço desculpa”
– Responde aquele menino –
“Depois, queria dizer,
Segundo foi meu ensino,
O nome que recebi:
Mamãe me chama João,
E assim me chama meu pai,
Como também meus irmãos.
Agora, sim, peço ajuda,
Estou um pouco perdido:
Ando à procura de um porto
Sem nunca a ele ter ido.”
Responde, então, o senhor:
“Perdoa a mim, amiguinho,
Eu nem te disse meu nome,
Que é como o teu, igualzinho:
O meu também é João.
E bem conheço o caminho
Que chega até esse porto.
Espera só um minutinho...”
“Não posso mesmo, senhor!”
– Disse com raiva. – “O navio
Há de partir daqui a pouco!
Já ouço seu assobio!”
Sorriu-lhe muito o João
(O que possui mais idade!)
E respondeu: “Vai com calma!
Não é preciso ansiedade!
O barco ainda não parte,
Está somente chamando.
Vamos seguir devagar;
E enquanto vamos andando
Vou te contar um pouquinho
De quando eu fui para o mar.
Tinha teu mesmo tamanho
E o mesmo olhinho a brilhar.”
Interessou-se o menino:
“Já que eu não parto tão cedo,
Quero poder te escutar;
Pois tenho um pouco de medo
De viajar no navio.
Vê só: eu sou tão fraquinho,
Sinto-me tão pequenino!
Porque sou só garotinho.”
“Não te preocupes assim
Com teu tamanho, João!
Vou te contar minha história,
Presta bastante atenção:
Achava tudo tão grande
Quando cheguei ao navio!
Era gigante o convés,
Até senti um arrepio...
Havia muitos meninos,
Do meu tamanho ou maiores;
E várias outras pessoas
Estranhas nos arredores.
Paralisado, eu pensava
No que devia fazer.
A gente perde as palavras
Quando precisa dizer.
(Não compres nunca palavras,
Que elas te deixam sozinho.
Juram levar-te pra Roma;
Deixam-te a pé no caminho.)
Quando ficares assim
Não estarás obrigado
A repetir as palavras
Que os outros têm esperado.
Busca tuas próprias palavras
No dicionário da mente;
Mas, se não queres falar,
Faze silêncio, somente.
Aqui está uma coisa
Que vou dizer bem baixinho:
Pessoas são diferentes,
Vais ver durante o caminho.
Pessoas são como a música:
– Assim eu tenho aprendido –
Umas são belas! Mas outras
Machucam bem nosso ouvido...
Há quem entenda o silêncio,
Há quem prefira falar.
Acha teu próprio caminho,
Não penses em os julgar.
E se quiserem julgar
Teu ser pelo exterior,
Lembra que está mais ao fundo
O que merece louvor:
É lá, bem dentro do peito
Que se esconde o amor,
A compaixão, a verdade,
Jóias de grande valor.
Nenhum comentário:
Postar um comentário
O mural do Albergue não é quadro de mesa de sinuca. Pense antes de postar.