segunda-feira, 9 de maio de 2011

Mãos

Há na separação uma tal propriedade
que, desligando aquilo que se achava unido,
constrói, num laço, um vínculo de intimidade
inteiramente novo, mas não desconhecido,

porque o pensar – esse artifício da saudade –
erige fortes contra a solidão e o olvido:
é como Psiqué guardada na soledade,
feliz mesmo na espera, alheia ao alarido.

Faz muito tempo, Zéfiro levou-te embora
aos altos montes deste amargo afastamento,
longe de mim, perdido em devaneios meros;

mas haverá uma noite e, então, uma aurora;
e, unindo nossas mãos, num descortinamento,
contemplaremos – sob o véu – a face d’Eros.

Leonardo Ramos.

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