quarta-feira, 4 de janeiro de 2012

Parceria: O Albergue + Pimenta, Moda, Música

Mais uma participação desta casa no blog da Dani. Falei de Nick Drake, um dos meus compositores favoritos de folk. Leia aí:

http://chillifashionrock.blogspot.com/2012/01/radiola-moderna-nick-drake.html

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Leonardo Ramos.

terça-feira, 3 de janeiro de 2012

Promessa

(Trilha sonora sugerida: Elephant, by Damien Rice)



Muitas vezes eu disse a mim mesma: isso vai acabar. Apesar das promessas, apesar das palavras, apesar do amor, apesar da presença.

Na realidade – o que é a realidade? – eu nunca acreditei que fosse acabar. Porque, se se pensa no que se vai fazer quando o mel acabar enquanto ainda se suga o favo, não se aproveita a doçura e não se resolve a amargura do depois. A amargura do depois não se resolve, mas a doçura do agora se perde muito fácil.

Em todo esse tempo em que estivemos juntos, os melhores momentos foram ao seu lado – ou à sua espera, o que dá no mesmo. Porque sua presença acontecia também na promessa. Porque o penhor dessa promessa era seu corpo, que eu ainda adoro.

Adoro – e sei que muito mais do que ela. Porque eu sempre vi como ela o trata. Não é nada grosseiro, não é nada de desprezo, mas não é amor. Porque o amor consome, disso eu sei. O amor faz sentir como se tivesse carregado um fardo pesado. Emendo-me: o amor faz carregar fardos pesados.

E o fardo pesado era seu corpo, que me consumia. Em todo esse tempo em que estivemos juntos, eu estive com outros homens. O sexo era bom, mas não me consumia. Ao fim, eu estava lá, eu era a mesma, sempre eu. Com você, eu me consumia. Era como uma vela. Eu me iluminava e me consumia. E era bom.

O amor tira o brilho dos seus olhos justamente por deixá-los brilhantes. Não quero ser repetitiva, mas é como a vela: é por iluminar que ela perde a própria luz. Ou, para mudar de metáfora, como a represa: é por se guardar que ela gera força. Não, isso é um outro exemplo... Não tem nada a ver.

Mas ela, não. Ela gosta de você, como se gosta de um amigo muito próximo. Ela é feliz com você! Não se pode ser feliz quando se ama. Não se pode. Eu não fui feliz. Eu não queria ser feliz. Eu queria você. Eu queria ser você. Eu queria me esquecer. Eu queria deixar de existir. Algumas vezes eu consegui.

Ela é mãe de seus filhos. O amor não gera vida. Não pode gerar. O amor é morte em cada despedida. Uma morte sem ressurreição, mas uma morte repetida. Essa balela de que a semente tem de cair na terra e morrer para dar frutos. Bobagem. A vida é um caminho para a morte, sempre. Estou me perdendo nos meus pensamentos... não sei o que estou dizendo.

Enfim, acabou. Você se foi com sua família. Eu continuo me deitando com outros homens, mas, como sempre, no fim, estou sempre eu mesma, intacta, esperando ser consumida. Porque se a gente caminha para a morte, não vale a pena se economizar.

E, veja!, eu nem queria me casar com você. Eu nem queria exclusividade. Eu não queria ter filhos com você. Eu não queria ter uma casa com você. Eu queria meu corpo em você. Eu queria me acabar em você. Eu queria morrer nos seus braços. Como muitas vezes morri.

Existe agora um barulho na minha cabeça, que é todo esse desejo, essa represa insana querendo vazar, querendo jorrar e se acabar, e destruir tudo em seu caminho, e destruir você, e evaporar... Mas, acabou. Você não está mais aqui. E eu continuo aqui, sempre eu mesma, sempre eu mesma sem você.

E essa ausência não vai se acabar. Porque não há mais penhor para as promessas. Não há mais promessas. Não há mais fogo para a vela. E ela não se consumiu toda. Ficou pela metade, torta, deformada.

Em todo esse tempo em que estivemos juntos, eu costumava fazer longas caminhadas solitárias no fim da tarde à beira da lagoa – ela não é natural, você sabe. Ela é um buraco com muita água represada dentro. Mas não era isso que eu queria dizer... Eu costumava fazer longas caminhadas solitárias no fim da tarde à beira da lagoa pensando na sexta-feira, no momento de reencontrá-lo. A imaginação não era muito fértil, a cena era sempre a mesma. Mas eu não era. Eu era sempre menos eu, cada vez menos eu.

Ainda faço minhas longas caminhadas à beira da lagoa, e elas continuam solitárias, continuam sendo no fim da tarde, mas agora o que me resta é relembrar. E relembrar não é bom, porque não há penhor, porque não há promessas. E relembrar consome as lembranças. E elas vão se esmaecendo na memória, e elas vão mudando, e já não se sabe mais o que é real e o que não é. E o que é a realidade? E isso é como aquela velha foto que, ao passar do tempo, vai perdendo a nitidez e ganhando sujeiras e intromissões que não faziam parte da cena inicial. Não, esse também não é um bom exemplo. É como a vela que se consome. Mas não quero ser repetitiva.

Nem me importo com a felicidade dela. A realidade é que eu não queria ser feliz com você. Não se pode ser feliz quando se ama.

Mas há uma dor que não acaba, por falta da promessa e do penhor, que é seu corpo, que eu adoro. E essa dor também não me consome. E no final sou sempre eu, eu mesma, sempre eu mesma sem você. Como a vela.
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Leonardo Ramos.

segunda-feira, 2 de janeiro de 2012

Playlist da semana

Folk - por mulheres.

1) Judy Collins - In my life



2) Sibylle Baier - I lost something in the hills



3) Marissa Nadler - Box of cedar



4) Emiliana Torrini - Sunny road



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Hermes.

segunda-feira, 26 de dezembro de 2011

Playlist da semana

Vamos à segunda parte dos clipes geniais. Começamos com duas mais lentas, logo após ligamos o drive nas guitarras! (No clipe do White Stripes, em especial, sugiro atentar para as referências bíblicas. Trazem novas e interessantes interpretações para o vídeo!)

1) Sigur Ros - Hoppípolla



2) R.E.M. - Everybody hurts



3) Radiohead - Just



4) White Stripes - Blue Orchid



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Leto.

sábado, 24 de dezembro de 2011

Não - O Albergue não adotou decorações natalinas

Boa noite, caros frequentadores deste recinto.

Eu estou encarregada, desde que cheguei, de deixar o ambiente um pouco mais acolhedor, dentro das minhas possibilidades de ação. Leonardo e Hermes, outros dois donos desta casa, dão-me muita liberdade de mover um sofá aqui, acertar um quadro ali, colocar um perfume no ar acolá. O que me deixa feliz n'O Albergue é que eu tenho mais ou menos as mesmas ideias dos outros rapazes - um pouco menos ranzinza que o Hermes, um tanto mais intolerante que o Leonardo, verdade seja dita.

Mas, apesar das reclamações, decidimos (na verdade, eu decidi, certa da concordância dos outros dois) que O Albergue não aderiria ao clima noélico. Por quê? Porque a data é fictícia, porque as decorações são clichês (para não dizer cafonas), porque esta hospedaria deve ser igualmente acolhedora todos os dias.

Houve reclamações, claro. Eu as ouvi com atenção, óbvio. Mas Hermes, especialmente, desde a fundação, deixou claro que, aqui, os clientes são sempre bem tratados, mas nem sempre têm razão.

No seu primeiro ano, O Albergue deixou passar batido o natal. Neste ano, eu achei por bem dar, pelo menos, uma satisfação.

Um Feliz Natal para quem é de comemorar; uma boa noite para quem, como nós, acha que um dia é apenas um dia.



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Leto.

quinta-feira, 22 de dezembro de 2011

Vagos sentimentos vespertinos

Foto: Leonardo Ramos

Causerie

Vous êtes un beau ciel d'automne, clair et rose !
Mais la tristesse en moi monte comme la mer,
Et laisse, en refluant, sur ma lèvre morose
Le souvenir cuisant de son limon amer.

- Ta main se glisse en vain sur mon sein qui se pâme ;
Ce qu'elle cherche, amie, est un lieu saccagé
Par la griffe et la dent féroce de la femme.
Ne cherchez plus mon coeur; les bêtes l'ont mangé.

Mon coeur est un palais flétri par la cohue ;
On s'y soûle, on s'y tue, on s'y prend aux cheveux !
- Un parfum nage autour de votre gorge nue !...

O Beauté, dur fléau des âmes, tu le veux !
Avec tes yeux de feu, brillants comme des fêtes,
Calcine ces lambeaux qu'ont épargnés les bêtes !
Charles Baudelaire.

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Leonardo Ramos.

terça-feira, 20 de dezembro de 2011

Parceria: O Albergue + Pimenta, Moda, Música

Minha segunda contribuição para o blog "Pimenta, Moda, Música". Desta vez, o assunto é o primeiro trabalho solo do Eddie Vedder, vocalista do Pearl Jam, na trilha sonora do filme "Na Natureza Selvagem" (Into the Wild). Confira:

http://www.chillifashionrock.blogspot.com/2011/12/radiola-moderna-eddie-vedder-flertando.html

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Leonardo Ramos.

segunda-feira, 19 de dezembro de 2011

Playlist da semana

Clipes geniais. Parte I.

1) Prodigy - Smack my bitch up



2) Pearl Jam - Do the evolution



3) Depeche Mode - Wrong



4) The Dead Weather - Treat me like your mother



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Hermes.

terça-feira, 13 de dezembro de 2011

Parceria: O Albergue + Pimenta, Moda, Música

Minha contribuição para o excelente blog da minha amiga querida Daniela Fontes sobre moda! O blog se chama "Pimenta, Moda, Música", e a seção de que participo é sobre música, intitulada "Radiola Moderna". Nessa postagem, falo sobre o Iron & Wine.

http://chillifashionrock.blogspot.com/2011/12/radiola-moderna-iron-and-wine.html

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Leonardo Ramos.