quinta-feira, 27 de outubro de 2011

Revisor

Sentou-se diante da folha em branco. As ideias estavam em sua mente, mas a distância entre seu crânio e sua mão parecia tão grande que era impossível transformar o pensamento em palavra escrita.

“Faça-se a luz, Deus disse. E a luz se fez”. Lembrou-se dessa página bíblica e pensou que ele também poderia ser um tipo de demiurgo. Se Deus criara o mundo pela palavra, talvez ele pudesse dar à luz um texto. “Se eu tivesse sete dias, talvez eu conseguiria... Talvez”, pensou. Na verdade, ele tinha apenas sete minutos. Sete dias para Deus, que, segundo a crença judaico-cristã, sempre existiu e sempre existirá, devia equivaler a sete minutos para ele. Mas não, ele não queria ser Deus, nem mesmo um seu discípulo. Se Deus é um escritor, não deve ser dos melhores. Deve escrever, como diz o ditado, em linhas tortas.

Este último pensamento o desgostou sobremaneira.

- Não, eu não quero ser Deus, nem seu discípulo. Mas eu me candidataria à vaga de seu revisor.

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Leonardo Ramos.

Obs.: Texto escrito como parte de uma prova para revisor freelancer numa editora.

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